A Aliança pelo Impacto recomenda que organizações públicas e privadas que estejam comprometidas com o desenvolvimento de ecossistemas de investimentos e negócios de impacto fomentem ações de apoio a dinamizadores de impacto. Dinamizadores são atores/organizações que apoiam de forma diversa a jornada de empreendedores e investidores que atuam com impacto socioambiental. Eles oferecem a infraestrutura de redes, plataformas de formação e conexão, conteúdos de referência, ações de reconhecimento e criam condições para a replicação de boas práticas.
Esta recomendação propõe que organizações públicas e privadas criem, de maneira individual ou coletiva, programas de fomento (por meio de doação em montantes significativos) que possam alavancar positivamente a jornada de empreendedores(as) de impacto, tornando os fluxos de capital, tecnologia e conhecimento mais distribuídos e dinâmicos. Esses programas devem financiar iniciativas em sete eixos estruturantes (veja observação abaixo) que geram oportunidades, benefícios e referências para todos(as) os(as) empreendedores(as) de impacto.
Sete eixos estruturantes do ecossistema para criação de programas de fomento.
FORMAÇÃO E APOIO A EMPREENDEDORES(AS) DE IMPACTO
EXEMPLOS DE INICIATIVAS
* Programas e metodologias para fortalecimento institucional e qualificação de incubadoras,
aceleradoras e outros ambientes de inovação que apoiam negócios de impacto.
* Criação de plataformas on-line de formação de empreendedores(as) de impacto.
* Promoção e educação sobre instrumentos de microfinanciamento para fomento de empreendedores(as),
especialmente periféricos(as) e rurais.
* Aceleração do surgimento e qualificação de organizações criadas por grupos historicamente vulnerabilizados para apoiar empreendedores(as) de impacto, com soluções que reflitam as potencialidades e demandas desses grupos.
* Formação de mentores para atuar no apoio a negócios de impacto.
FINANCIAMENTO DE NEGÓCIOS DE IMPACTO E ACESSO A MERCADOS
* Apoio a organizações estruturadoras de instrumentos financeiros de impacto (preferencialmente com formatos híbridos para combinar fontes e perfis de capital;
* Estruturação de plataformas de crowdfunding e plataformas de empréstimos peer to peer.
* Promoção de novos arranjos produtivos regionais que possam ampliar o acesso a mercados.
Tecnologias digitais para alavancar negócios de impacto
* Fomento a tecnologias digitais que possam reduzir a assimetria de informações e os custos de transação do ecossistema, tais como soluções que reduzam o custo e o tempo de coleta de dados para melhorar a gestão do impacto, plataformas que ampliem acesso a mercados e conexão com consumidores(as), smart contracts para automatização de investimentos baseados em resultados etc.
Ensino, pesquisa e extensão voltados a negÓcios de impacto
* Editais de apoio à pesquisa voltados para negócios de impacto.
* Financiamento de iniciativas de empresas juniores e outros formatos de extensão universitária.
* Fortalecimento de redes de professores(as) para troca de boas práticas, produções coletivas e parcerias em nível nacional e internacional.
* Programas de empreendedorismo socioambiental no ensino técnico e nas faculdades de tecnologia.
Comunicação para impacto
* Iniciativas de atração e reconhecimento de jornalistas e veículos que cobrem a agenda de impacto.
* Redes e campanhas entre veículos de conteúdos e notícias.
* Iniciativas de disseminação da agenda para públicos de interesse que ainda não estão familiarizados com o tema.
Geração de dados para impacto
* Financiamento de mapeamentos e estudos que gerem dados sobre o ecossistema de impacto.
* Plataformas de dados que gerem inteligência de mercado para negócios de impacto.
* Metodologias acessíveis e digitalizadas para organizações intermediárias e dinamizadoras mensurarem seu impacto, bem como dos negócios e ecossistemas que acompanham e apoiam.
Advocacy para impacto
* Fortalecimento de ações de advocacy que contribuam para a agenda — como a aprovação de legislações
subnacionais inspiradas na Enimpacto, a inclusão de critérios de impacto em compras públicas e o pleito de incentivos fiscais.
* Legislação que contribua para a qualificação jurídica de negócios de impacto, especialmente a partir das propostas já em andamento, como as que se baseiam na adoção de critérios mínimos e autorregulação do setor.
Metas 2025
1- Mais de 30% dos institutos e fundações atuantes no Brasil alocam recursos financeiros não reembolsáveis
para fomento ao ecossistema de impacto nos 7 eixos sugeridos por esta recomendação. *
2- Aumento de 10% no percentual de institutos e fundações que alocam recursos para
intermediários do ecossistema de impacto. *
3- Criação de cinco projetos de fomento colaborativos com orçamento igual ou superior a R$ 5 milhões cada para impulsionar projetos estruturantes nos eixos estruturantes.
4- Ter legislação que qualifique negócios de impacto e crie incentivos fiscais para investimentos em negócios nascentes.
5- Criar ou fortalecer bases de dados sobre empreendedores(as) e ecossistemas de impacto para monitoramento dos avanços e balizamento de futuros programas de fomento.
* Sugere-se o Censo GIFE como ferramenta de acompanhamento.
Por que esse tema é importante?
Há alguns anos vem se discutindo sobre a incompatibilidade entre as expectativas de crescimento dos investimentos de impacto no Brasil e o perfil dos negócios de impacto que estão buscando investimentos. Enquanto os(as) investidores(as) buscam modelos de negócios maduros, com teses de impacto comprovadas e modelo escalável, os(as) empreendedores(as) precisam do apoio de organizações intermediárias para construir sua jornada empreendedora. De acordo com o Mapa de Negócios de Impacto da Pipe. Social (2019), 74% dos negócios de impacto no Brasil têm até cinco anos de existência. Grande parte deles, 67%, encontra-se em estágios iniciais (pré-tração), fase em que ainda estão testando estratégias para conciliar lucratividade e impacto social positivo efetivo e comprovado. Um salto no ecossistema de investimentos e negócios de impacto no Brasil aponta para a necessidade de engajar mais empreendedores(as) – ampliando a diversidade regional, étnico-racial e de gênero, entre outras – , oferecer mais e melhores oportunidades de formação e ampliar o acesso à tecnologia e recursos financeiros para o começo da jornada. Esse salto, por sua vez, não acontece de forma espontânea. Depende de diversos fatores, que vão desde um ambiente institucional favorável (cultura e regulamentações voltadas para o empreendedorismo de impacto) até uma infraestrutura com redes, plataformas de formação, conteúdos de referência, ações de reconhecimento e condições para replicação de boas práticas. Nos últimos cinco anos, diversas organizações (privadas e públicas) têm direcionado recursos não reembolsáveis para iniciativas estruturantes do ecossistema de impacto. No entanto, faz-se necessária uma ampliação significativa desses recursos, além do comprometimento de pensar em processos que possam beneficiar um número maior de empreendedores(as) de impacto em todo o país.
Diagnóstico
Construir esse círculo virtuoso requer um olhar cuidadoso para as lacunas de formação e também suporte para empreendedores(as) de impacto. Segundo o mapeamento da Pipe.Social de 2019, cerca de 22% dos negócios em estágios iniciais já captaram algum recurso via doação. Além disso, esses recursos não reembolsáveis são disputados por iniciativas de intermediários, visando suporte ao(à) empreendedor(a) e, também, por iniciativas do terceiro setor, que dependem majoritariamente de doações para se manter atuantes. O salto em escala, necessário para “mudar o jogo” no campo dos investimentos de impacto, vai requerer mais organizações investindo com uma abordagem sistêmica, orientada para impactos de longo prazo. Mais de 50% dos negócios de impacto já buscaram algum programa de apoio. No entanto, os processos de seleção são altamente competitivos, e as oportunidades, são concentradas em sua maioria nas regiões Sul e Sudeste do país. Há, portanto, espaço para programas de apoio ao(à) empreendedor(a) focados em setores específicos ou com expertises orientadas para apoiar estágios específicos da jornada empreendedora. De acordo com o Mapeamento de Mecanismos de Geração de Empreendimentos Inovadores da Anprotec (2019), o Brasil conta com 420 incubadoras e aceleradoras focadas no fomento a negócios inovadores. Desse total, pouco mais de 20% já possuem alguma experiência no suporte aos negócios de impacto. Essas organizações são agentes fundamentais na dinamização dos ecossistemas locais, no apoio e na formação de novos empreendimentos e no desenvolvimento tecnológico em diferentes regiões do país. No entanto, têm seus próprios desafios de operação. Estes são relacionados à estrutura organizacional e a modelos de gestão e governança, tais como, equipes reduzidas, alta rotatividade, baixos orçamentos, pouca diversificação nas estratégias de financiamento e falta de planejamento de longo prazo. A ampliação das oportunidades de formação e apoio a empreendedores(as) requer também o fortalecimento institucional de organizações de apoio ao(à) empreendedor(a) que já atuam no campo, bem como, a aproximação com outras iniciativas que podem contribuir com a agenda. A academia também tem um papel estratégico na formação e expansão do ecossistema de impacto, seja por meio da formação de talentos para o campo, seja na produção de conhecimento, pesquisa e tecnologia ou ainda na conexão entre produção acadêmica e ações concretas para resolução de desafios sociais e ambientais. Contudo, a produção de pesquisas sobre o tema ainda é muito baixa no país e requer linhas de financiamento e fomento específico para seu desenvolvimento. Do mesmo modo, as dimensões de ensino e extensão têm grande potencial para ampliar sua contribuição na consolidação do ecossistema. Todas as dimensões mencionadas afetam de maneira ainda mais profunda a jornada de mulheres empreendedoras, de negros(as), de povos tradicionais, entre outros. Há claramente uma jornada empreendedora mais desafiadora para esses perfis em comparação ao representado por homens, por brancos, por jovens, por pessoas da região Sudeste do país, que é o perfil típico dos(das) empreendedores(as) de impacto. O estudo Aplicando uma Lente de Gênero no Apoio ao Empreendedorismo conduzido pela ANDE (Aspen Network of Development Enterpreneurs) em 2020 apontou ainda quatro tópicos-chave fundamentais para a aplicação de uma lente de gênero no empreendedorismo no Brasil:
- Compreender as barreiras estruturais ou estereótipos que prejudicam as mulheres, especialmente no ambiente de investimento;
- Compreender as interseccionalidades entre gênero e outros temas, como raça e pobreza;
- Fomentar iniciativas de acesso a investimentos;
- 4. Garantir a tração e a retenção de mulheres em programas de empreendedorismo.